Não conseguir gerar um filho com a pessoa que amamos está entre as coisas mais frustrantes que um casal pode experimentar. Além da terrível sensação de incapacidade em dar continuidade a própria família, também existe uma cobrança externa, vinda dos pais, parentes, amigos, enfim, da sociedade, que, às vezes mesmo sem querer, promovem uma desconfortável pressão sobre o já angustiado casal.
E por isso, com frequência, são vistas mulheres que, envergonhadas, vão se isolando cada vez mais. Sentem-se "menores" que as demais. E esse sentimento de inferioridade faz com que não dividam essa dor com ninguém. Muitas vezes, nem com o próprio marido. Essa angústia é levada a outras áreas da vida, chegando a um predomínio da sensação de impotência.
Dessa complexa relação de sentimentos advém a dificuldade em procurar ajuda. Mas isso não precisa ser necessariamente assim.
A primeira Fertilização In Vitro em humanos foi realizada na Inglaterra, em 1978. No Brasil, a primeira criança concebida por essa técnica nasceu em 7 de outubro de 1984. E, nesses últimos 38 anos, temos acumulado grande experiência. Um enorme esforço tem sido empenhado em pesquisas, e hoje contamos com uma investigação mais eficaz.
A infertilidade, academicamente, é definida como a ausência de gravidez após 12 meses de tentativas, sem o uso de qualquer método contraceptivo - como camisinha, pílulas, interrupção do ato sexual durante a ejaculação, "tabelinha" etc.
Portanto, passados esses 12 meses de tentativas está indicada a investigação. É sabido que para que uma gravidez natural ocorra são necessárias apenas 3 coisas: Ovulação, sêmen e trompas funcionantes. Às vezes precisamos atuar sobre a ovulação, algumas vezes sobre a qualidade do sêmen, e outras, sobre como resolver o problema das trompas.
"QUEM MENSTRUA, OVULA"
Essa frase, apesar de bastante simplista, traz uma verdade quase sempre. Sabemos que, para que ocorra a menstruação, alguns mecanismos de estímulo e diferenciação do tecido que recobre o útero por dentro (endométrio) devem ser contemplados. E caso a mesma apareça todos os meses, e entre uma menstruação e outra haja um intervalo de no mínimo 21 dias e no máximo 35 dias, existem enormes chances da ovulação ocorrer com sucesso. Os principais problemas que podem afetar a ovulação são: Síndrome dos Ovários Policísticos (ver artigo), Obesidade, Doenças da Tireóide, Alterações da prolactina, Falência Ovariana Precoce e alterações nos cromossomos.
- Avaliação das trompas
As trompas podem ser testadas por duas maneiras: A cromotubagem é o procedimento padrão-ouro. Porém é necessária a realização de uma cirurgia laparoscópica, que habitualmente é realizada sob anestesia geral, e, durante o procedimento, é injetado no útero um corante azul de metileno de tal forma que se possa avaliada a passagem do corante através das trompas. No entanto, tanto a laparoscopia como a anestesia geral não são isentas de riscos. A realização da cromotubagem ocorre quando, por alguma outra razão, já será procedida a laparoscopia. Como acontece nas suspeitas por endometriose, massas anexiais, leiomiomatose etc. O segundo exame possível de se avaliar as trompas é a Histerossalpingografia. Neste exame um contraste é injetado no interior do útero e são feitas radiografias do abdome para avaliar se há extravasamento do contraste pelas trompas e para o interior do abdome. Pode-se experimentar algum desconforto nesse exame, motivado principalmente por contrações uterinas.
Quando a concentração de espermatozóides móveis progressivos é muito baixa, e, portanto, já será necessária a realização de Fertilização In Vitro, pode-se dispensar a avaliação das trompas. Quando na avaliação das trompas observa-se obstrução dos dois lados será necessária a Fertilização In Vitro, mesmo que haja uma boa reserva ovariana e boa concentração seminal.
- Avaliação do sêmen
O sêmen deverá ser avaliado por um exame chamado Espermograma. Por meio dele saberemos se há concentração e qualidade de espermatozóides suficientes para ascenderem pelo útero, passarem pelas trompas e fecundarem um óvulo. Alterações no sêmen causam dificuldade em conceber em até 35% dos casais. As causas mais comuns de alterações masculinas são: aumento da temperatura dos testículos por uma febre prolongada ou exposição a calor excessivo, bloqueio ou ausência dos ductos deferentes, ausência das vesículas seminais, dilatação e tortuosidade de veias do testículo (varicocele). Muitos tratamentos têm sido tentados para aumentar a concentração de espermatozóides ou melhorar sua qualidade. Infelizmente, até o presente momento, pouquíssimos impactos sobre a fertilidade têm se conseguido.